quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

O menino que cresceu no jardim


“O menino que cresceu no jardim”, de Gonçalo M. Tavares

Um certo jardineiro regava todas as tardes um menino para ele crescer.
Ele acreditava que poderia crescer, tal como as flores, com água.
Este menino cheirava tão bem, graças a essa mistura com as flores, que as abelhas dóceis o rodeavam e faziam-no tratá-las como suas, zumbindo melodiosamente. O menino adormecia três vezes por dia, embalado pelo som das abelhas.
Aquela orquestra privada deixava-lhe, num copo que ele trazia, um delicioso mel como presente. O menino ia ao fim – de - semana vender o mel, ficando rico e acreditando que com esse dinheiro cresceria mais que os outros meninos.
Aos dez anos julgou ter descoberto a sua vocação profissional: não queria ser príncipe, mas maestro.
Continuou a ser regado, apesar de saber que não poderia crescer mais que os outros, mas ganhava perfume e mel e ouvia música.
Ele compreendeu, finalmente, que o dinheiro não dava para crescer e que a água sim.
Em adulto, foi jardineiro: o mais feliz do mundo, por ser rodeado de crianças que queriam ser regadas.
A água ajudou-o a crescer, ou seja, a compreender que há um tempo para tudo.

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