“A leitura é um bem essencial. Para viver com autonomia, com plena consciência de si próprio e dos outros, para poder tomar decisões face à complexidade do mundo actual, para exercer uma cidadania activa, é indispensável dominá-la. Determinante no desenvolvimento cognitivo, na formação do juízo crítico, no acesso à informação, na expressão, no enriquecimento cultural e em tantos outros domínios, é encarada como uma competência básica que todos os indivíduos devem adquirir para poderem aprender, trabalhar e realizar-se no mundo contemporâneo.” (ME)
sábado, 29 de março de 2008
A LEITURA É UM BEM ESSENCIAL
“A leitura é um bem essencial. Para viver com autonomia, com plena consciência de si próprio e dos outros, para poder tomar decisões face à complexidade do mundo actual, para exercer uma cidadania activa, é indispensável dominá-la. Determinante no desenvolvimento cognitivo, na formação do juízo crítico, no acesso à informação, na expressão, no enriquecimento cultural e em tantos outros domínios, é encarada como uma competência básica que todos os indivíduos devem adquirir para poderem aprender, trabalhar e realizar-se no mundo contemporâneo.” (ME)
quinta-feira, 27 de março de 2008
O COLECCIONADOR DE SELOS
Era uma vez um senhor que coleccionava selos. Aquele homem vivia no meio dos selos; ele era doido por selos.
Então, um dia um amigo virou-se para ele e disse-lhe:
- Olha, estive a pensar e cheguei à conclusão que tu devias vender a tua colecção de selos, não achas?
- Estás doido?! Estás maluco! - exclamou o senhor.
E o amigo ficou a olhar para ele com uma cara esquisita. E então o amigo disse:
- Tu, não gostavas de ganhar montes de dinheiro?
- Sim, mas para ganhar montes de dinheiro escuso de abdicar da minha colecção de selos – respondeu o senhor. E ainda por cima tenho selos muito valiosos e selos sentimentais!
- Acho que estás a ser um bocado parvo. Essa colecção se selos vale milhões de euros!...
- E eu não me importo com o dinheiro! O dinheiro não é tudo na vida e se estes selos são especiais, são para ficar comigo e pronto! - respondeu o senhor – Eu adoro os meus selos.
Ali continuaram sempre a falar, mas o senhor já irritado pensou:
“Talvez ele tenha razão. Esta colecção vale milhões de euros! Mas claro que não a irei vender. Adoro os meus selos!”
E assim fez. Adorava os seus selos; não os queria perder para ficar com o dinheiro.
UMA HISTÓRIA COM UM SELO
Um dia o João decidiu enviar uma carta aos seus padrinhos que estão na Suíça.
Quando acabou de fazer a sua carta, foi com a mãe e o pai comprar um selo e depois enviou-a pelos correios, os “CTT”.
Inexplicavelmente, durante a viagem o selo deslocou-se e de repente veio uma rajada de vento e lá foi o selo pelo ar.
O selo fez uma espécie de viagem radical. Imaginem, passou pelo Brasil e quando ia a cair, uma andorinha conseguiu apanhar o selo e levou-o para o seu ninho, que ficava ao cimo de uma grande árvore, com um tronco muito grosso.
Num terrível dia, em que chovia torrencialmente, o vento era fortíssimo e a temperatura era muito baixa; o selo voou durante muitos dias, até que, como por magia, quando o carteiro entregou a carta ao João, porque não tinha um selo, o selo entrou pela janela do quarto do João e caiu em cima da mesa de cabeceira. E quando ia tomar o seu chá viu o selo e foi a correr mostrá-lo à mãe. Os seus pais tiveram uma excelente ideia.
Passada uma semana, os padrinhos do João ligaram-lhe e disseram que adoraram a carta e que nunca esperaram receber uma carta assim.
A carta tinha o selo que tinha feito uma grande viagem e lá dentro tinha a história que vocês acabaram de ler.
EU SOU A LETRA A
A
Comecei com um i a cair para o lado direito,
Depois com um i a cair para o lado esquerdo.
E depois meteram-me um traço ao meio.
E foi assim que me formei.
A MINHA VIDA NUMA PÁGINA
às 10.00 horas da manhã do dia 19 de Janeiro, numa cidade
lindíssima, Chaves, a minha terra natal.
Até aos 2 anos de idade, vivi em Chaves, mas depois
o meu pai arranjou trabalho em Braga e, por isso, viemos para cá.
Andei no Jardim de infância de Amares, onde conheci muitos
amigos e muitos deles estiveram sempre comigo na escola. Quando fiz 6 anos,
fui para a escola primária, que ficava mesmo à beira da minha casa; foi uma mudança simples, nada mudou, acho que até fiquei mais contente por saber que estava a crescer.
Posso dizer que a infância foi muito dolorosa para mim, pois, quando tinha apenas 9 anos, andava no 4º ano de escolaridade e Jesus levou a minha querida irmã para o seu lado: fiquei muito triste, mas acredito que, se Jesus assim o fez, é porque era o melhor, e sei que estando ao pé de Deus, está em segurança, está com os anjos. Mas a partir daí, nunca mais tive o mesmo sorrir, nem o mesmo brilhar de olhos. Na altura, ainda era muito nova e por isso não tinha bem a noção das coisas, mas tanto os meus pais, como o meu irmão e toda a minha família sofreram muito.
Quando me mudei para a escola do 2º ciclo é que foi uma mudança radical, pois a escola era maior e havia mais salas: era muito diferente, tinha mais professores enquanto na primária só tinha uma. Mas habituei-me, pois vi logo que a escola do 2º ciclo era muito melhor.
Até ao 12º ano, estudei em Amares, mas quando o terminei mudei-me para Braga, onde tirei o curso de cardiologista na Universidade do Minho.
Aos 20 anos, escrevi o meu primeiro livro «Serei Capaz»; nesta altura ainda ganhei mais força para continuar o curso. Aos 23, escrevi novamente um livro «Porta Aberta», um romance, sem dúvida inesquecível; durante o meu curso, escrevi vários livros, entre eles «Coração Profundo», «Senhora do meu nariz»; «Do início ao fim», «Páginas Abertas, concluindo tornei-me, numa escritora de sucesso.
Quando terminei o curso, fiz o meu estágio na Clínica de Santa Tecla, onde também tocava viola para todos os doentes, que quisessem. Isso fazia-me sentir bem comigo própria.
A minha carreira profissional como guitarrista, foi curta: tocava numa orquestra em Londres, mas como não tinha muito tempo, dediquei-me mais à escrita, deixei para traz a música e viajei bastante.
Quando tinha 31 anos, foi-me pedido que escrevesse um livro, o qual ia ser representado em cinema; fiquei entusiasmadíssima, mas não podia de um momento para o outro deixar os meus doentes. Então tive de conciliar a escrita com o trabalho. E assim o fiz e, no ano de 2030, o livro «Caminho Perdido», foi um sucesso e o filme ainda mais: com a colaboração de todos foi.
Lembro-me perfeitamente que passava todas as minhas férias, numa quinta, a quinta da Fonte Negra; era uma quinta que pertencia ao meu tio Artur, e que agora pertence ao filho, o Arturinho.
É daí que eu estou a escrever mais uma página da minha vida.
domingo, 23 de março de 2008
CECÍLIA MEIRELES
Cecília Meireles nasceu em 1901, no Rio de Janeiro e faleceu em 1964, também no Rio de Janeiro. Foi poeta, professora, jornalista e cronista. No período de 1919 a 1927, colaborou nas revistas Árvore Nova, Terra de Sol e Festa. Fundou a primeira biblioteca infantil do Brasil. Lecionou na Univerdade do Distrito Federal em 1936 e na Universidade do Texas em 1940. Trabalhou no Departamento de Imprensa e Propaganda no governo de Getúlio Vargas, dirigindo a revista Travel in Brazil (1936). É considerada por muitos como uma das maiores poetisas da Língua Portuguesa.Em 1993 foi atribuído o Prémio Camões a Cecília Meireles.
Minha infância de menina sozinha deu-me duas coisas que parecem negativas, e foram sempre positivas para mim: silêncio e solidão. Essa foi sempre a área de minha vida. Área mágica, onde os caleidoscópios inventaram fabulosos mundos geométricos, onde os relógios revelaram o segredo do seu mecanismo, e as bonecas o jogo do seu olhar. Mais tarde, foi nessa área que os livros se abriram e deixaram sair suas realidades e seus sonhos, em combinação tão harmoniosa que até hoje não compreendo como se possa estabelecer uma separação entre esses dois tempos de vida, unidos como os fios de um pano.Cecíclia Meireles
Obras da autora
Criança, meu amor, 1923Nunca mais..., 1923Poema dos Poemas, 1923Baladas para El-Rei, 1925O Espírito Vitorioso, 1935Viagem, 1939Vaga Música, 1942Poetas Novos de Portugal, 1944Mar Absoluto, 1945Rute e Alberto, 1945Rui — Pequena História de uma Grande Vida, 1948Retrato Natural, 1949Problemas de Literatura Infantil, 1950Amor em Leonoreta, 195212 Noturnos de Holanda e o Aeronauta, 1952Romanceiro da Inconfidência, 1953Poemas Escritos na Índia, 1953Batuque, 1953Pequeno Oratório de Santa Clara, 1955Pistóia, Cemitério Militar Brasileiro, 1955Panorama Folclórico de Açores, 1955Canções, 1956Giroflê, Giroflá, 1956Romance de Santa Cecília, 1957A Bíblia na Literatura Brasileira, 1957A Rosa, 1957Obra Poética,1958Metal Rosicler, 1960Antologia Poética, 1963Solombra, 1963Ou Isto ou Aquilo, 1964Escolha o Seu Sonho, 1964Crônica Trovada da Cidade de San Sebastian do Rio de Janeiro, 1965O Menino Atrasado, 1966Poésie (versão francesa), 1967Obra em Prosa - 6 Volumes - Rio de Janeiro, 1998
Sítios Web sobre a poetisa
Vida e obra de Cecília Meireleshttp://www.tvcultura.com.br/aloescola/literatura/ceciliameireles/
Biografia de Cecília Meireles http://www.releituras.com/cmeireles_bio.asp
Biografia de Cecília Meireles e alguns dos seus poemashttp://www.geocities.com/fedrasp/cecilia-meireles.html
Cecília Meireles, vida e obrahttp://www.tanto.com.br/ceciliameireles.htm
Biografia, obras, antologiahttp://www.brasil.terravista.pt/Claridade/3456/ceciliam.html
sábado, 22 de março de 2008
Poeta Popular Português - António Aleixo
Quadras
Sou humilde, sou modesto;
Eu não tenho vistas largas,
À guerra não ligues meia,
Depois de tanta desordem,
Eu não sei porque razão
Vemos gente bem vestida,
Os novos que se envaidecem
Este livro que vos deixo
quarta-feira, 19 de março de 2008
Matilde Rosa Araújo
BIOBIBLIOGRAFIA
Matilde Rosa Araújo nasceu em Lisboa em 1921. Licenciou-se em Filologia Românica pela Faculdade de Letra da Universidade Clássica de Lisboa. Foi professora do Ensino Técnico Profissional em Lisboa e noutras cidades do País, assim como professora do primeiro Curso de Literatura para a Infância, que teve lugar na Escola do Magistério Primário de Lisboa.
Tem exercido a sua actividade profissional, como professora, na cidade do Porto.
Autora de livros de contos e poesia para o mundo adulto e de mais de duas dezenas de livros de contos e poesia para crianças, a sua temática centra-se em torno de três grandes eixos de orientação: a infância dourada, a infância agredida e a infância como projecto.
Tem-se dedicado, ao longo da sua vida, aos problemas da criança e à defesa dos seus direitos.
É autora de alguns volumes sobre a importância da infância na criação literária para adultos, sobre a importância da Literatura Infanto-Juvenil na formação da criança e sobre a educação do sentimento poético como mais-valia pedagógica.
Recebeu os seguintes prémios no domínio de Literatura para a Infância
Grande Prémio de Literatura para Criança da Fundação Calouste Gulbenkian ex-aequo com Ricardo Alberty, em 1980; Prémio atribuído pela primeira vez, para o melhor livro estrangeiro (novela O Palhaço Verde), pela associação Paulista de Críticos de Arte de São Paulo, Brasil, em 1991;
Prémio para o melhor livro para a Infância publicado no biénio 1994-1995, pelo livro de poemas Fadas Verdes, atribuído pela Fundação Calouste Gulbenkian, em 1996.
Obra
O Livro da Tila – poemas para crianças, 10ª edição, Livros Horizonte, 1986;
O Palhaço Verde – novela infantil, 5ª edição, Livros Horizonte, 1984 (ilustrações de Maria Keil);
História de um Rapaz – conto infantil, 8ª edição, Livros Horizonte, 1986 (ilustrações de Maria Keil);
O Cantar da Tila – poemas para a juventude, 8ª edição, Livros Horizonte, 1986 (ilustrações de Maria Keil);
O Sol e o Menino dos Pés Frios – contos, 7ª edição, Livros Horizonte, 1986;
O Reino das Sete Pontas – novela infantil, 2ª edição, Livros Horizonte, 1986 (ilustrações de Manuela Bacelar);
Os Quatro Irmãos – 2ª edição, Livros Horizonte, 1983 (ilustrações de Ana Leão);
História de uma Flor – conto infantil, 1ª edição, Faoj; O Sol Livro – textos para o ensino, 1ª edição, Livros Horizonte, 1976;
Os Direitos da Criança Livros Horizonte – 1ª edição, Unicef, 1977;
O Gato Dourado – contos infantis, 3ª edição, Livros Horizonte, 1985 (ilustrações de Maria Keil);
As Botas de Meu Pai – contos infantis, 2ª edição, Livros Horizonte, 1981 (ilustrações de Maria Keil);
Camões, Poeta Mancebo e Pobre – divulgação, 1ª edição, Prelo Editora, 1978;
Baladas das Vinte Meninas – poema infantil, Plátano Editora, 1978 (ilustrações de Cristina Malaquias);
Joana-Ana – conto infantil, Livros Horizonte, 1981 (ilustrações de Maria Keil);
A Escola do Rio Verde – 2ª edição, Livros Horizonte, 198l (ilustrações de Romeu Costa);
O Cavaleiro Sem Espada – Livros Horizonte, 1979 (ilustrações de Maria Keil);
A Velha do Bosque – Livros Horizonte, 1993 (ilustrações de Ana Leão);
A Guitarra da Boneca – Livros Horizonte, 1983 (ilustrações de Evelina Coelho);
As Crianças, Todas as Crianças – Livros Horizonte, 1976;
A Infância Lembrada – Antologia – Livros Horizonte, 1986;
A Estrada Fascinante – Livros Horizonte, 1988; Mistérios – Livros Horizonte, 1988 (ilustrações de Alice Jorge);
Rosalina Foi à Feira – Livraria Arnado, 1994 (ilustrações de Fernando Saraiva);
O Chão e a Estrela – Editora Verbo 1997 (ilustrações de Paulo Monteiro);
As Fadas Verdes – Livraria Civilização, 1994 (ilustrações de Manuela Bacelar);
"A Fonte do Real", in Soares, Luísa Ducla (org.), A Antologia Diferente – De que São Feitos os Sonhos, Porto, Areal, (1986), pp. 30-32;
Voz Nua, Lisboa, Horizonte, 1986; "A menina do pinhal", in AAVV, Histórias e Canções em Quatro Estações – Primavera. Lisboa. Lisboa Editora. 1988, pp. 9-24;
O Passarinho de Maio, Lisboa. Horizonte, 1990;
O Chão e a Estrela, Lisboa, Verbo, 1994;
A Estrada Fascinante, Lisboa, Horizonte, 1988 (ensaio).
Textos online
A FITA VERMELHA
O MENINO DOS PÉS FRIOS
BALADA DAS VINTE MENINAS FRIORENTAS
LUCILINA E ANTENOR
A FITA VERMELHAEu tinha começado a ensinar. Era muito nova então. Quase tão nova como as meninas que eu ensinava.
E tive um grande desgosto. Se recordar tudo quanto tenho vivido (já há mais de vinte anos que ensino), sei que foi o maior desgosto da minha vida de professora. Vida que muitas alegrias me tem dado. Mais alegrias que tristezas.
Se vos conto este desgosto tão grande, não é para vos entristecer. Mas para vos ajudar a compreender, como só então eu pude compreender, o valor da vida. O amor da vida. O valor de um gesto de amor. O seu «preço», que dinheiro algum consegue comprar.
Eu ensinava numa escola velha, escura. Cheia do barulho da rua, dos «eléctricos» que passavam pelas calhas metálicas. Dos carros que continuamente subiam e desciam a calçada. Até das carroças com os seus pacientes cavalos.
A escola era muito triste. Feia. Mas eu entrava nela, ou digo antas, em cada aula, e todo o sol estava lá dentro. Porque via aqueles rostos, trinta meninas, olhando para mim, esperando que as ensinasse.
O Quê? Português, francês. Hoje sei, acima de Tudo, o amor da vida. Com toda a minha inexperiência. Com todos os meus erros. Porque um professor tem de aprender todos os dias. Tanto, quase tanto ou até muito mais que os alunos.
Mas, desde o primeiro dia, compreendi que teria nas alunas a maior ajuda. O sol, a claridade que faltava àquela escola de paredes tristes. A música estranha e bela que ia contrastar com os ruídos dos «eléctricos», dos automóveis da calçada onde ficava a escola. Até com o bater das patas dos cavalos que passavam de vez cm quando.
Porque, mais que português e francês, havia uma bela matéria a ensinar e a aprender. Foi nessa altura que comecei mesmo a aprender essa tal matéria ou disciplina – ou antes, a ter a consciência de que a aprendia. Eu convivia com jovens (seis turmas de trinta alunas são perto de duzentas) que no princípio de Outubro me eram desconhecidas. Cada uma delas representava a folha de um longo livro que no princípio de Outubro me era desconhecido. Todas eram folhas de um longo livro por mim começado a conhecer. Não há ser humano que seja desconhecido de outro ser humano. Só é precisa a leitura.
Eu tinha agora ali perto de duzentas amigas. Todas aquelas meninas confiando em mim, esperando que as ensinasse; sorrindo, quando eu entrava, assim me ensinavam quanto lhes devia.
Mas um dia. Eu conto como aconteceu o pior. E conto-o hoje, a vós, jovens, que me podem julgar. Julgar-me sabendo este meu erro. E evitarem, assim, um erro semelhante para vós mesmos.
Já era quase Primavera. Na rua não havia árvores nem flores. Só os mesmos carros com o seu peso e a violência da sua velocidade. Gritos de vez em quando. Uma Primavera só no ar adivinhada.
Numa turma uma aluna faltava há dias. Era a Aurora. Morena, de grandes olhos cheios de doçura. Talvez triste.A Aurora estava doente. Num hospital da cidade, numa enfermaria. Num imenso hospital.
Olhei o retratinho dela na caderneta.
Retratinho de «passe», num sorriso de nevoeiro de uma modesta fotografia. Tão cheia de doçura a Aurora!
Doente, do hospital tinha-me mandado saudades.
– Vou vê-la no próximo domingo – anunciei às companheiras.
E tencionava ir vê-la mesmo no próximo domingo.
O MENINO DOS PÉS FRIOS Era uma vez uma casa. Muito grande. Com um tecto altíssimo, nem sempre azul. Uma casa enorme onde habitava uma grande família: uma família tão grande que, por vezes, não julgavam os seus membros que se conheciam. E se deviam amar.Houve um menino que entrou nesta casa estava ela toda branca. No chão tapetes de neve, cristais de água de uma brancura que estremecia. E as próprias árvores escorriam essa brancura. E frio. Iluminava-a uma estrela tão brilhante que, sobre o tecto, parecia que poisava sobre as nossas mãos.Ora um dia, em que fazia anos em que esse menino entrara nessa casa, outro menino por ela andava com frio. Pelo chão, pelos milhões de cristais, caminhavam os seus pezitos enregelados. Tanto frio que nem podiaolhar a estrela brilhante. Nem os milhões de cristais que pisava.Uma mulher chorava a um canto dessa casa. E era triste essa mulher. Estava triste e cansada. Na casa nem tudo era belo. Ali estava aquele menino cheio de frio. E, como ele, tantos meninos.E, já há quase dois mil anos, um menino entrara na asa, que ficou mais clara com a luz brilhante do tecto. O menino entrou só para dizer uma palavra pequenina: AMOR.Então essa mulher perguntou ao menino dos pés frios:– Tu não tens a tua casa?O menino olhou a mulher triste e ficou triste. Ambos estavam tristes. E disse quase envergonhado que não.– Tu não tens roupa? Sapatos? Um lume? Pão?A cabeça (tão linda!) do menino ia abanando sempre a dizer não. A mulher triste começou a ter vergonha.Então ela consentia que na sua casa, na casa de todos, de tecto nem sempre azul, houvesse um menino sem roupa, sem lume, sem pão? Ela consentia uma coisa assim? E os outros também?Escorregaram-lhe pela face já enrugada duas lágrimas transparentes. De água. Água como a que tombava do tecto, como a que se estendia nos mares.E perguntou mais ao menino:– E para onde vais? Eu dou-te qualquer coisa para o caminho...O menino olhou para ela admirado. Não lhe disse para onde ia. Observou-lhe apenas:– Tens duas gotas de água nos teus olhos que reflectem o céu azul e a lâmpada do tecto. Não sentes?A mulher deixou cair pelo rosto enrugado as duas lágrimas. A pele, então, ficou-lhe mais lisa. E ela tornou-se menos curva. Ergueu-se. Estendeu, sorrindo, os dois braços ao menino. E disse:– Fica. Perdoa.E o menino ficou. Nos seus braços. Encostado ao seu peito. Com os pés aquecidos sobre o campo de neve.E a mulher entendeu que não adiantava chorar ao canto da casa. E o seu vestido era uma bandeira. E o seu coração uma flor. Com o menino a seu lado.
BALADA DAS VINTE MENINAS FRIORENTAS
Vinte meninas, não mais,
quarta-feira, 12 de março de 2008
ÉRIKA E A OBESIDADE
Havia uma menina chamada Érika que vivia na Quinta das Rosas, no Alentejo.
Érika era uma menina gulosa e obesa. Tinha vergonha de ir para a escola.
Numa manhã de sol Érika vai para a escola. Lá toda a gente goza com ela. Ela começa a chorar.
Uma aluna que por ali passava viu Érika a chorar e foi ter com ela.
- Passa-se alguma coisa? – perguntou a tal aluna.
- Toda a gente me anda a goza – lamentou Érika – Estou farta desta escola!
- Não lhes ligues – aconselhou a menina.
- Como te chamas? – interrogou Érika.
- Rosana – informou - a.
Estiveram muito tempo a conversar, mas entretanto começou a chover. O céu estava cinzento como o carvão.
- Rosana, onde vives? – perguntou Érika.
- Eu vivo na Quinta das Papoilas. Conheces? - perguntou Rosana.
- Conheço. É junto da Quinta das Rosas, onde vivo – contou Érika.
Ambas eram ricas. Ambas viviam em quintas.
- O meu pai vem-me buscar – disse Érika.
- O meu também! – exclamou Rosana apontando para um senhor alto e magro como um palito.
- Adeus! – disse Rosana.
Érika estava contente por ter encontrado uma nova amiga e vizinha.
No dia seguinte, Érika e Rosana passaram o dia juntas. Elas eram da mesma turma.
Na escola, ainda gozavam com Érika. Mas naqueles dois últimos dias com Rosana, Érika aprendeu a não dar ouvidos aos outros.
Érika por muito que tentasse não comer guloseimas, comia…
Rosana disse-lhe:
- És tão bonita assim. Estás a estragar a tua beleza! Porque é que fazes isso?
- Rosana…
- Não é Rosana nem meio Rosana. Deves parar de comer isso – reclamou Rosana.
- Eu prometo que vou parar de comer guloseimas – prometeu Érika.
- Também espero que cumpras essa promessa – declarou Rosana.
A partir desse momento, Érika parou de comer guloseimas. Lá na escola já não a gozavam.
Érika era muito mais feliz…
Ana Isabel Ferreira Rodrigues
6ºG nº3
DO ALTO DO CAVALO AZUL, de Vergílio Alberto Vieira
A Dama do Cachorrinho
FAZ DE CONTA QUE...
Quando lá cheguei, colocou-me no móvel da cozinha e ligou-me à corrente eléctrica. Comecei por fazer um ruído esquisito e soltei muitas formiguinhas, mas logo me controlei e a minha imagem depressa apresentei.
À noite todos me deram atenção: os mais pequenos puderam ver os desenhos animados, os maiores viram as notícias e os filmes; a partir daí já ninguém me esqueceu, pois eu passei a ser a melhor companhia deles.
A velha avozinha ainda hoje faz serão a ver as suas novelas na velha televisão.
quinta-feira, 6 de março de 2008
A Semana da Leitura na nossa Escola
Ler em todas as aulas pequenos excertos de textos que nos tenham marcado. Ler poesia. Ler em vários sotaques. Ouvir histórias por contar de alunos que lêem... o reconto e o resumo. Escrever textos a partir do que tiverem lido e ouvido.
É no baloiçar das actividades sobre a leitura que encontramos o Prazer de Ler e os levamos a Ler.
Gostaríamos de escrever um poema no chão para caminharmos de modo diferente!
quarta-feira, 5 de março de 2008
Biografia de Sophia de Mello Breyner Andresen
A linguagem poética de Sophia de Mello Breyner mostra, a sua cultura clássica e a sua paixão pela cultura grega. Luz, verticalidade e magia estão, aliás, sempre presentes na obra de Sophia, quer na obra poética, quer na importante obra para crianças que, inicialmente destinada aos seus cinco filhos, rapidamente se transformou em clássico da literatura infantil em Portugal, marcando sucessivas gerações de jovens leitores com títulos como "O Rapaz de Bronze", "A Fada Oriana" ou "A Menina do Mar".
Sophia é ainda tradutora para português de obras de Claudel, Dante, Shakespeare e Eurípedes, tendo sido condecorada pelo governo italiano pela sua tradução de "O Purgatório".
Trabalho realizado pela Márcia, nº 20, 6º G
Os Poetas
Solitários pilares dos céus pesados,
Poetas nus em sangue, ó destroçados
Anunciadores do mundo
Que a presença das coisas devastou.
Gesto de forma em forma vagabundo
Que nunca num destino se acalmou.
Sophia de Mello Breyner Andresen
in Dia do Mar, 1947
Texto 2
No Poema
Transferir o quadro o muro a brisa
A flor o copo o brilho da madeira
E a fria e virgem limpidez da água
Para o mundo do poema limpo e rigoroso
Preservar de decadência morte e ruína
O instante real de aparição e de surpresa
Guardar num mundo claro
O gesto claro da mão tocando a mesa.
Sophia de Mello Breyner Andresen
in Livro Sexto, 1962
TEXTO 3
Arte Poética
A dicção não implica estar alegre ou triste
Mas dar minha voz à veemência das coisas
E fazer do mundo exterior substância da minha mente
Como quem devora o coração do leão
Olha fita escuta
Atenta para a caçada no quarto penumbroso
Sophia de Mello Breyner Andresen
in O Búzio de Cós, 1997
O Príncipe Feliz de Óscar Wilde
Óscar Wilde
Era uma vez um Príncipe, que morreu, e depois da sua morte construíram-lhe uma estátua para que toda a gente visse a sua beleza. Tinha duas safiras nos olhos e um rubi na ponta da sua espada.
Existia uma Andorinha que não partiu com as suas amigas, porque se tinha apaixonado por um junco. A certa altura, ela fartou-se do tal junco e foi para a cidade.
A Andorinha abrigou-se entre os pés do Príncipe Feliz. Ela pensava para si própria que tinha encontrado um quarto coberto de ouro, pois o Príncipe era revestido de ouro.
De repente, quando a Andorinha estava prestes a adormecer, caiu-lhe uma gota na cabeça. Ela, muito admirada, olhou para cima e não viu nenhuma nuvem. De seguida caiu a segunda. Quando a Andorinha se preparava para ir embora, caiu-lhe a terceira gota; foi nessa altura que olhou para cima e reparou que as gotas vinham dos olhos do Príncipe Feliz. Muito espantada, perguntou-lhe porque chorava e o Príncipe Feliz, esse, falou-lhe que estava a chorar, porque, antes de morrer e de o colocarem naquele lugar mais alto, nunca tinha reparado nas pessoas pobres, no seu povo, enfim. Mas agora, que reparava nisso tudo, quem lhe dera ainda estar vivo!
O Príncipe Feliz viu uma costureira a fazer um vestido para uma dama e logo pediu à Andorinha para lhe levar o seu rubi, pois o seu filho estava doente e com febre. Ele pedira à mãe tangerinas, mas a mãe não tinha dinheiro para lhas comprar.
Então, o Príncipe voltou a pedir à Andorinha, convencendo-a a ficar. E lá foi ela colocar o rubi na mesa da costureira; de seguida foi ao quarto do menino e bateu as suas asas junto dele de tal modo que o menino perdeu a temperatura e adormeceu tranquilamente.
A Andorinha voou, poisou no ombro do Príncipe Feliz e disse-lhe tudo o que fizera. A certa altura, a Andorinha sentiu-se muito quente, apesar do ar fresco.
O Professor de Ornitologia viu uma Andorinha no Inverno e foi logo ao Jornal Local comunicar a estranheza.
A Andorinha disse ao Príncipe que nessa noite iria para o Egipto, mas ele pediu-lhe que ficasse mais uma noite, porque vira um jovem escritor num sótão, com frio e fome, que não conseguia acabar a sua história. Ele, desta vez, pediu-lhe que levasse um dos seus olhos que eram feitos de belas e raras safiras.
A Andorinha disse-lhe que não! Mas o Príncipe implorou-lhe e assim convenceu-a! Ela tirou-lhe uma safira, levou-a ao jovem, deixando-a nas violetas murchas da sua secretária. Quando a lua apareceu, ela voltou para o Príncipe Feliz. Queria despedir-se dele, mas o Príncipe pediu-lhe que ficasse mais uma noite, porque na praça mais abaixo estava uma menina que vendia fósforos e que os tinha estragado porque caíra! E que o pai lhe ia bater se não levasse dinheiro para casa. A Andorinha retirou-lhe a outra safira e levou-a “À Pequena Vendedora de Fósforos”.
A Andorinha disse, por fim ao Príncipe Feliz, que ele agora estava cego e que ficaria com ele para sempre.
O Príncipe disse-lhe que estava coberto de ouro e pediu-lhe que o levasse aos pobres que, quando viram o ouro, disseram que assim já tinham pão…Chegou a neve e a Andorinha teve cada vez mais frio.
Ela informou o Príncipe que ia embora e pediu-lhe para lhe beijar a mão. Mas o príncipe disse-lhe para ela lhe beijar os lábios e logo o coração dele se partiu em dois.
O Presidente da Câmara viu o Príncipe todo cinzento e sem jóias. Por isso decidiu pôr a estátua na fornalha a derreter, mas reparou que o seu coração não derretia. Deitaram-no ao lixo, onde também se encontrava a Andorinha morta. Deus pediu a um dos seus anjos para ir buscar as duas coisas mais preciosas da cidade. O Anjo levou-lhe o coração do Príncipe e a Andorinha.
Deus disse-lhe que fizera a escolha certa.
Disse-lhe também que no seu jardim, no Paraíso, a Andorinha cantará para sempre assim como, na sua cidade do ouro, o Príncipe o honrará para sempre.