sábado, 22 de março de 2008

Poeta Popular Português - António Aleixo



Quadras


Sou humilde, sou modesto;

Mas, entre gente ilustrada,

Talvez me digam que eu presto,

Porque não presto p’ra nada.


Eu não tenho vistas largas,

Nem grande sabedoria,

Mas dão-me as horas amargas

Lições de filosofia.


Tu não tens valor nenhum,

Andas debaixo dos pés,

Até que apareça algum

Doutor que diga quem és.


À guerra não ligues meia,

Porque alguns grandes da terra,

Vendo a guerra em terra alheia,

Não querem que acabe a guerra.


Depois de tanta desordem,

Depois de tão dura prova,

Deve vir a nova ordem,

Se vier a ordem nova


Eu não sei porque razão

Certos homens, a meu ver,

Quanto mais pequenos são

Maiores querem parecer.


Vemos gente bem vestida,

No aspecto desassombrada;

São tudo ilusões da vida,

Tudo é miséria dourada.


Os novos que se envaidecem

P’lo muito que querem ser

São frutos bons que apodrecem

Mal começam a nascer.

Este livro que vos deixo

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